Mestre menino
Da saudade de intrínseco ser de algo,
Da sede do provérbio de não ter nascido, ainda.
Da vida que, por já ser, é certo que quase finda,
Salva-me, salva-me, mestre.
Tu, meu senhor menino, que, com vontade, te salgo
O pé descalço, o riso, a frescura campestre.
Sabes tanto mais que eu, por saber eu tão demais.
Sabes ao sabor do mundo, queres o céu até cima,
Enfastias do infinito no instante de uma rima.
E eu exaspero e acuso, cá em baixo no sopé,
Ansiando pelas forças ancestrais,
Pela universal verdade do “Quem diz é quem é!”
Já vi bem mais com os diamantes dos teus olhos,
Já ensinei a muitos outros essas asas de papel.
Não sei como, foi sem querer, mas não lhes fui muito fiel,
Cresci. Chega agora de crescer, de só sonhar as coisas belas.
É a hora de ser livre, é o tempo dos desfolhos.
É a hora, mestre menino, de voltarmos a dançar com as estrelas.
Miguel de Miguel