Autor: Gonçalo Marques
Eu não mudo
Parece que foi ontem, e foi mesmo.
Neste dia frio de Inverno deixei de ser criança.
Completei dezoito anos e, assim o dizem, sou um adulto.
Larguei para traz o jovem Verão, sou um vivido Inverno.
Mas resume-se a isto?
Faço dezoito primaveras e sou adulto?
E enquanto não as fizer sou criança?
E se eu ainda não me sentir no Inverno?
E se eu quiser permanecer mais algum tempo no Verão?
O meu espírito e a minha mente continuam jovens,
Com as motivações e sentimentos de crianças
Que se riem com muito e preocupam-se com pouco.
O meu interior não mudou neste dia!
Rejeito veementemente essa premissa.
Queres-me dizer que deixei de ser o rapaz que vive na mãe
E que agora sou o homem que paga as prestações?
Não, não pode, sinto-me jovem e não anseio as responsabilidades!
Então, quando cessará completamente a criança que reside dentro de mim?
Quero acreditar que nunca.
Pode vir o Outono, que esse sim, lentamente me levará
Para o Inverno, aquele que me vai pesar no corpo,
De tantas responsabilidades e deveres.
Posso já estar no Inverno, mas sei que virá sempre e a qualquer momento
Uma leve aragem de calor, vinda talvez da África Equatorial,
Repleta de juventude, e que me fará, ainda que por momentos,
Ser novamente uma criança, a correr livremente sem que nada me pese.
O espírito do Verão irá sempre permanecer dentro de mim,
Ele não morreu, ele não se esfumou.
Está adormecido, à espera que o acordem…