Toda a criança é um rio
As crianças são espelhos. Erguidas, plantadas
à beira dos rios de ar do poema, que atravessam
só de o respirar. E, se me olham espantadas,
eu escrevo depois o poema onde só elas cantam.
Toda a criança é um rio
com olhos cor de safira.
E, se com elas, triste, sorrio,
é porque é nosso o canto da lira.
Não lhes peço mais que um pouco de céu
e o génio das palavras semeado no vento.
De Maia, só elas sabem o que está por detrás do véu,
sob as estrelas com os líricos olhos ao relento.
Cada criança é o seu próprio céu estrelado,
e onde vêem o Deus ao espelho, está o poema.
E elas cantam, dizem palavras: amado,
música, dedos, piano, coração, noema,
Eu sei, as crianças são paisagens atravessadas
por rios cor de pássaro. Na garganta flautas têm,
por Orfeu são as coisas mais amadas,
e o poema só começa quando elas sorriem.
pseudónimo: Gabriel Vagas