Há algo de belo
Há algo de belo em alguém que morre novo,
E nada da beleza está na morte.
Pelos cantos putrefactos do que vejo
Vejo mais, que a vida que se acaba, antes do tempo,
(há lá tempo para qualquer vida se acabar?)
Tem algo de belo nela, nesse suspiro, nesse findar.
Um romantismo estéril e moribundo,
Do que acabou antes de vir a ser,
E a ignorância do que seria,
Evitando a decadência do lento deixar de ser.
E é triste, e é belo, e emociona-me
O arder e o apagar independente
Da vontade ou desejo do portador,
Apenas por significar o que significa:
Menos o fim de uma esperança infinita num tempo finito,
Menos uma cortina a separar o tudo do nada, e do menos que isso,
Menos uma alma incompleta à espera de o descobrir
(completa por isso)
Menos um resfriar lento e comedido, para não parecer mal,
Mais um suícidio em nome da eternidade.
O medo. O medo. O medo.
Perde-o.
Agora ou depois, ardendo ou apagando,
Criança com tudo ou acabado com nada,
Perde-o.
Só te resta a morte.
Pedro Leitão