Das crianças
São puras, inocentes, verdadeiras.
Chamam-lhes anjos, arautos e afins.
Elas é que são Buda e Jesus.
Consta que não têm maldade ou preconceito
e deve ser por tudo isso que são o melhor do mundo.
Muitos poetas falam delas. Menos, falam para elas.
Muitos menos, falam com elas.
Afinal, são apenas seres em construção
mas já são o melhor que podem ser.
Não vale a pena gastar muita tinta com a perfeição,
o poeta vive do caos, do erro, da paixão.
Diz-se que são seres humanos em potência.
Se eu soubesse o que é ser um ser
e humano… potência, acho que sei.
Eu já era o eu que hoje sou.
A diferença é que me perdoavam todas as crueldades,
que me davam almoço e jantar e me aconchegavam na cama
e eu não tinha que fazer nada… só existir.
As crianças olham as coisas
como se não percebessem nada do que vêem
e têm com elas uma intimidade digital.
Eis a essência e também o Graal.
Mas o melhor da infância foi que eu era imortal.
Isa Maloff
As Crianças
As crianças a brincar
E eu a olhar,
Sei deixar de pensar
Se iria voltar a ficar igual.
Estão sempre a cantar
E fazem-nos dançar,
São doces e carinhosos
E estão sempre babosos.
São a nossa razão de viver,
Nascem de nós
Tal como os nossos avós.
Eles são o fruto do nosso amor
E não nos deixam dor,
São traquinas e brincalhões
E estão nos nossos corações.
Fofinhos são
Tristes não ficaram,
Com o nosso amor e carinho
Apetece dar mais um beijinho.
Rita Santos
Era uma vez
Era uma vez
Um país de várias cores
Onde as ruas têm nomes de flores
E os sonhos se tornam realidade.
Era uma vez (outra vez)
Uma menina pequena e frágil
(Voava como uma borboleta ágil
Pelos caminhos da felicidade)
Tinha caracóis no cabelo
E sorriso alegre de criança
Os seus olhos, cor de chocolate,
Espelhavam ternura e esperança.
Amar era a sua arte.
E movia-se ao sabor do vento
Que a levava para terras distantes
Desvendando-lhe princesas, infantes,
Noites estreladas e momentos de alento.
Baloiçava entre o imaginário e o real
Subia à mais alta montanha
E agarrava a mais bela estrela
Que acreditava ser o seu mundo ideal.
(Qual sina estranha
A ingenuidade é má façanha!)
A curiosa petiz
Vivia feliz.
Era uma vez…
Marta Aguiar
Um saco de Porquês…
Um rectângulo… Muitas cadeiras…
Angustias partilhadas… Emoções defenidas…
Perdidos localizados… Desilusões marcadas…
Uma Criança… Um colo…
Um andar ligeiro… Barulho entoado…
Um sorriso… Despenteado…
Um pequeno Guerreiro… Uma grande Vida…
O seu mundo… Um saco de Porquês!...
Nasce rotulada… Vive sem pedidos…
Muitas incompreensões…Vontade de viver…
Uma luta hora-a-hora… Uma conquista dia-a-dia…
Muitas desistências… Uma ida involuntária…
Uma paragem no tempo… Um valor…
Outro valor… uma dor!...
Outra dor… Outro valor!!!
Migos Môr
- Dedico este poema a todas as crianças que sentem a doença e aos pais que lutam ao lado destes pequenos grandes guerreiros
Um novo ramo
Deposito minha esperança
nas sementes que o vento
espalha pelo caminho
Que o tempo sem descanso
apodrece aos frutos e aos homens..
Mas desses sempre surgem,
novos ramos...
E apesar do ciclo ser severo
não nos é permitido
desperdiçar terreno e minério
Pois é justamente dessa terra
que eles irão se alimentar..
Isto é, se até lá não tivermos concretados,
os jardins e os corações..
Assim mesmo tenho fé
de que entre as fendas superficiais
Floresça uma espécie ainda capaz
de ser humana o suficiente...
Nada de laboratório ou foguetes,
cálculos ou igrejas;
Precisamos mesmo é de produtores rurais,
mensageiros embotados de lama
Plantando no propósito de que a paz se fertilize
e dê aos nossos filhos e netos
amor pra essa vida...
Autor: Gilmar Santos.
Sou criança, sou inesgotável
Ser criança é ser inesgotável na razão,
A razão que transforma qualquer emoção,
A razão que leva ao infinito da questão.
Ser criança é ver por entre cegos,
É sorrir constantemente,
É ter em mente a alma límpida e brilhante,
A alma que viaja sem maldade,
A alma que cava lealdade.
Faço castelos de areia,
Onde fico congelada e radiante,
Radiante porque sou criança triunfante,
Radiante pela experiência expectante.
Construo o meu ser para além da sombra dos outros,
Construo o meu querer pelo presente do que penso,
Sou infantil no mistério da realidade,
Sou infantil porque a fantasia conheço.
Ser criança é ser imortal,
Ser criança é poder cantar em liberdade,
Ser criança é dar luz à verdade.
Susana Ferreira
A Luz de um Sonho
Uma vontade de sorrir
Nasce da luminosidade do luar
Sendo eu criança
Tudo me leva a sonhar
Criança com sua alegria
Espontânea e inconstante
Imagina o objecto mais brilhante
Permanecendo assim este o seu guia
Criança, de extrema fragilidade
Ingénua e empolgante
Tudo lhe é fascinante
Mas com seu sorriso
Mesmo o mais disparatado
Possui alegria contagiante
Que torna o Mundo mais belo e radiante !
Marcelo Araújo
Criança Africana
Criança africana
Não concebida e já condenada
Criança sem futuro
Desde nova escravizada
Seu súbtil sorriso sobressai
No topo do inferno que ali vai
Sua tristeza constante
Torna-se num desespero revoltante
E nenhuma esperança
Permanece nesse coração negro
Coração triste de criança
A escuridão neles presente
Retira-lhes o pouco da sua alegria
Que é inútil para sobreviver na vida
Vida esta, corrompida eternamente !
Cláudio Madureira
Quero ser...
Quero ser, num sonho infinito
uma duquesa,até mesmo uma princesa,
morar numa casa de encantar,
de chocolate, ou até mesmo algodão.
Ter alegria e fazer magia
com a minha varinha de condão.
Quero por fim ser criança
Hoje, amanhã e sempre,
Numa alegria constante
d'um sonho atordoante.
Patrícia Alexandra Pereira
Poema de criança
Quando é nova uma criança
Nem sequer chega a pensar
Naquela triste herança
Que este Mundo lhe vai dar.
Inocente, vai brincando,
Entre as ruínas duma guerra
Onde os homens vão matando
Pouco a pouco a sua Terra.
Mas um dia vai dar conta
Da miséria que consome,
Quem não tem a mesa pronta
Para à noite matar a fome.
Com firmeza vai pedir
Ao mortífero canhão,
Que em vez de balas atire
Uns pedacinhos de pão.
Eu tenho quase a certeza
Que ninguém se vai ralar
E os senhores da grandeza
Vão prosseguindo a brincar.
Tanta gente a padecer
Por esse Mundo inteiro,
Tanta gente sem comer,
Mas prá guerra há dinheiro.
Meus senhores deste planeta,
Parem lá com as matanças,
E que mais ninguém cometa
Maus-tratos sobre as crianças.
Rama Lyon
Ser sempre criança
Hoje e sempre quero ser criança.
Quero emanar esperança,
Em cada passo que dou.
Quero voltar a ser só sonho.
Ser criança, ser magia,
e ser noite.
Sem nunca deixar de ser dia.
Espelhos.
Esses velhos rivais da beleza.
Esses reveladores de tristeza,
que parecem não acabar.
E as memórias.
Oh, essas velhas histórias.
Essas verdades risórias,
de tudo que ainda sou.
Espelhos que traem memórias.
Fazem o corpo crescer.
Mas a criança, essa nunca esquece.
O que não quer esquecer.
Ser criança?
Para alguns, recordações,
pedaços de uma verdade esquecida.
para mim,o resto da vida!
Pedro Serra
“Baloiço”
Empurrei-te o baloiço, para a frente, para trás,
Tinhas asas, eras pássaro, cometa, avião!
Balançavas como se fosses capaz
De tocar no céu com a tua própria mão!
Na praia eras barco, submarino, peixe, sereia,
Quando te vi, em mergulhos, partir à conquista do mar!
Golfinho entre a espuma das ondas a saltitar
Até terra firme, onde rebolavas na areia!
Quando correste sem parar atrás da bola no relvado,
Eras avançado a marcar golo da vitória!
Quando, à noite, te contei uma história,
Tornaste-te rei, um grande herói, príncipe encantado!
Resgataste a princesa do tirano malvado,
E viveste feliz para sempre!
Mas quando te peguei ao colo, eras pequenina novamente,
Aninhaste no meu peito, quiseste saber de tua mãe,
Um anjo caído mesmo à minha frente,
A quem eu, admirado, perguntei:
“O que és tu, afinal, linda criatura,
E com que contagiosa esperança
Brincas, corres e saltas com prazer?”
Foi quando me encaraste cheia de ternura,
E sorrindo, respondeste: “sou criança,
Por isso, posso ser o que quiser!”
Flipkosta
Salta, salta, sapo rabugento,
Energético a disfarçar o teu desalento.
Coaxa, coaxa a tua dor,
As tuas verrugas são puras provas de amor.
Na noite quente cantas pachorrento,
A embalar meu peito sonolento,
Sapo enrugado dos contos de criança,
De príncipe não te vislumbro semelhança.
Sapo de tudo, sapo de nada,
Sapo de terra, sapo de água,
Sapo de nadar, sapo de saltar,
Farto de pensar, sem saber como respirar.
Sapo de fabulação, sapo de empirismo,
Sapo de esborrachar, sapo de cinismo,
O bicho é afinal, a raiz de todo o mal.
A humanidade não lembra mais
A metamorfose que teu corpo traz.
Autor: Klapausius
Mestre menino
Da saudade de intrínseco ser de algo,
Da sede do provérbio de não ter nascido, ainda.
Da vida que, por já ser, é certo que quase finda,
Salva-me, salva-me, mestre.
Tu, meu senhor menino, que, com vontade, te salgo
O pé descalço, o riso, a frescura campestre.
Sabes tanto mais que eu, por saber eu tão demais.
Sabes ao sabor do mundo, queres o céu até cima,
Enfastias do infinito no instante de uma rima.
E eu exaspero e acuso, cá em baixo no sopé,
Ansiando pelas forças ancestrais,
Pela universal verdade do “Quem diz é quem é!”
Já vi bem mais com os diamantes dos teus olhos,
Já ensinei a muitos outros essas asas de papel.
Não sei como, foi sem querer, mas não lhes fui muito fiel,
Cresci. Chega agora de crescer, de só sonhar as coisas belas.
É a hora de ser livre, é o tempo dos desfolhos.
É a hora, mestre menino, de voltarmos a dançar com as estrelas.
Miguel de Miguel
Parece que és bruxa
Se pegas na vassoura e aspiras
a voar pelos ares…
parece que és bruxa! Parece que és bruxa!
Se o céu está escuro e tu adivinhas
que não vai chover…
parece que és bruxa! Parece que és bruxa!
Se a dor de um amigo também tu a sentes
e não és indiferente…
parece que és bruxa! Parece que és bruxa!
Se me olhas nos olhos e estás mesmo a ver
o que me vai na alma…
parece que és bruxa! Parece que és bruxa!
Parece que és bruxa mas és só…
criança
e queres ter direito a sonhar;
a brincar um pouco mais no jardim;
a contagiar os outros com a tua alegria
e a nunca pôr limites à esperança…
parece que és bruxa mas és só…
criança.
João Alberto Roque
O Menino que Voava
O Menino, corre, corre, corre
Esconde, salta, empurra
Canta, dança, grita
Fala, cala, apanha
Corre, corre, corre
Chora, ri, imita,
Desenha, rasga, tenta
Sonha, dorme, acorda
Corre, corre, inventa
E leva a mochila que é pesada
Pézinhos molhados
Correndo na estrada
Sacode o caminho
Caminho deserto
Debaixo do sol
Sozinho correndo
Já perto da vila
Mochila pesada
Que pesada carrega
Pousa-a no chão
Sobe o escorrega
Já é meia lua
Já é meia hora
Corre, corre a rua
Corre, corre agora.
Joana Espírito Santo.
Tu… Menino
Tu
Menino de caracóis
Loiros como o sol
Olhos azuis de céu
Sorriso cristalino do mar
Tu
Menino que corres pelos campos
Que voas nas asas do vento
Que sonhas nos braços das nuvens
Que acreditas na vida e nos sonhos
Tu
Menino que tens um coração
Cheio de amor e paixão
Que distribuis sorrisos eternos
E abraços cheios de ilusão
Tu
Que sabes o que queres
Que acreditas no que podes ter
Que lutas pelo que queres viver
Que enfrentas a vida sem medo
Tu
Menino que amas
Que acreditas e vives
Muda o Mundo
Muda a Vida
Muda a Esperança
Com a palma da tua mão
Pois nela tu guardas
O maior tesouro do Mundo
A tua inocência
Lena
menina
menina que lês o livro de estudos
sentada à mesa nesse banco de madeira
tu
sim
menina
és mais livre que a liberdade
livre
porque enquanto lês sorris candidamente
com o pensamento a vaguear lá por fora
a subir montes
a molhar os pés nas poças
a trepar às árvores do pomar
a saltar à corda com outras como tu
livre
porque o mundo é o que a tua imaginação quer que seja
e tu
podes sorrir nos dias de chuva
podes chorar se faz sol
podes tudo
e tudo é o teu voar de mansinho sobre cada frase
pousando calmamente nas letras que escolhes sem saberes porquê
sê livre
pinta um sorriso no sol do dia-a-dia
faz uma lua no meio das estrelas
e canta bem alto essa cantiga de faz-de-conta
dm
Título: "Raio de Sol"
Flor que desabrocha,
raio de sol que tudo ilumina em seu redor…
Inocência tão jovem… tão bela…
Não cresças, eterna criança!
Fica para sempre presa nos laços da infância,
sobre as estrelas do teu céu…
Deixa que a luz desponte em ti,
que o vento sopre orgulhoso no nosso jardim:
“Nasceu uma nova flor…”
Joana Assis
CRIANÇA
Doce sorriso, alegre indagar,
Olhos perdidos,
Sempre a buscar.
Atos sensatos, atos impensados,
Atos sem porquês,
Na busca de entender.
Amarga tristeza
Ao ver, adultos, que não compartilham
Deste doce sorriso e alegre indagar.
Ah , criança ..., doce sorriso, alegre indagar,
Olhos perdidos,
Sempre a buscar, que há de encontrar?
Marco Antônio Dib
Atrás
Afundado num mar de esperanças,
ouvia alegremente a minha voz de criança
com sonhos, brincadeiras, risos e alegrias,
perdidas no tempo onde a magia existia.
Foram risos ternurentos sem malícia
melodiosos como pássaros que chilreiam no campo
à espera de um sitio de mil encantos
onde se respira o cheiro do cravo de abril*
Campos verdes onde reina a harmonia
de sentidos, verdades, amores e alegrias
com caminhos sinuosos, pedras e obstáculos
que fazem da vida um grande espectáculo
Javier Santos
*fig.,
idade da alegria e da inocência;
mocidade (nas acepções figurativas grafa-se com inicial minúscula).
Menino do papá
Condói-me teu olhar travesso
Quando vou à luta descontente
Mas, teu fácil sorriso no regresso
Faz-me crer que ainda sou gente.
Neste mundo torcido e cruel
Que feliz arrastas com um cordel,
Queira o devir ser-te só felicidade,
Abracinhos fofos desinteressados,
Memórias, bons momentos passados
Numa terra fantasista sem idade.
Aí, nessa linda casa dos porquês,
Recreio sob a abóbada celeste prometido,
Onde a verdade é a imagem que vês,
Tudo vale, mesmo quando é fingido.
Gustavo F.
PARA SEMPRE
Vejo um sorriso enternecedor,
Que me mostra a beleza do eterno amor!
Ouço uma voz doce a querer cantar,
Já que não existe a preocupação de falhar!
Sinto a inocência pura de quem sabe brincar,
Tudo em seu redor é bom para festejar!
Sabe bem ter estes sentidos,
Fazem relembrar todos os momentos já vividos!
Sem dúvida me levam a crer,
O quanto vale a pena uma pessoa viver!
Mas pergunto-me se todos pensamos assim,
Mesmo sabendo que o tempo passa e tem um fim.
A procura pela resposta vai continuar,
Mas algo de certeza eu sei!
Continuo a sorrir, a cantar e a brincar,
Já que de ser criança nunca me cansei.
A base da resposta descobri eu agora!
Ver, ouvir e sentir como criança, jamais irá embora!
Inês Correia
CINCO ANOS
Vai, conquista a tua ilha de invenções
que fica em qualquer sítio e não tem fim,
herói, enfrenta tigres e leões,
piratas escondidos no jardim.
arrasta o tempo na sua quadratura,
da idade de tudo descobrir,
arma-te cavaleiro ou criatura
que do futuro, um dia, há-de sair.
grita em cima da mesa da cozinha
ao dinossauro que há para colorir,
com a espada que trazes na bainha
descosida das calças, esgrimir,
prende as forças do rei ou da rainha,
mas deixa-os livres, antes de ir dormir.
Peter
“Sei que me esperam espinhos por detrás das rosas”.
Ai das crianças que haverão de nascer.
O destino existia para nós.
O destino existe para elas.
Amanhã o céu estará mais empoeirado e cinza.
Inclusive para nós: os poetas.
E amaremos mais amargamente que antes.
Os casais não se olharão nos olhos.
Ai das crianças, que haverão de nascer.
Nascerão com as mãos cortadas ou empunhando pistolas.
Nascerão com o destino selado.
Meninos escravos de homens.
As guerras proliferarão.
O ar tornar-se-á mais pesado.
As trombetas anunciarão a hora do sangue e da disputa.
Os desejos estarão inertes.
As belezas ocultas. Por debaixo das pétalas, espinhos.
Os poetas estarão todos mortos.
E a única canção será das guerras.
Este é meu último poema.
Valdelice Amado
“Tudo muda…”
Tinhas amêndoas no olhar e um estrelado sorrir
Mente pura, e candura, de quem não sabe mentir.
A bela infância passa, seguiste uma nova estrada
Sais da antiga ignorância, e queres voltar à vida passada.
“Criança” perdida nas ruas, vagueando para além
Bastarda filha de nada, filha de ninguém.
Cantaram-te ao ouvido doces canções de embalar
Doces memórias perdidas que nunca mais ouviste cantar.
Saudade guardas agora de tempos que foram diferentes
Tanta coisa por dizer, perdidas paixões ardentes.
Usada pela vida e logo a seguir deitada fora
Vida maldita que te iludiu numa infância de outrora.
Hoje, já não há amêndoas no teu olhar
O teu sorriso já parou de brilhar
Tudo mudou tão de repente…
Voltaste as costas e seguiste
Para trás, a saudade persiste
Mas simplesmente olhaste em frente!
Xilofone ainda toca baixinho as doces canções de embalar
Zumbidos agora distantes que jamais irão voltar…
Vânia Furet
O mundo das crianças
Infinito... O mundo das crianças;
O nosso é restrito... redondo e
com formas.
O dos meninos, criaturas bizarras,
amorfas.
O nosso é insípido.
A repetição do sabor torna-o sem sabor.
O mundo das crianças não tem dor.
Vivem as crianças, paralisadas em seus sonhos;
entregues ao torpor.
Em seu mundo não há dor... só dor de dente, o pé
inchado, uma febre que passa.
Nós adultos temos tantas dores:
de cotovelo, coração, no corpo e na alma.
Um barquinho de papel numa poça d’agua...
e lá dentro navegam as crianças.
Uma pipa no céu é seu avião... Opa! Aquela se perdeu
num súbito turbilhão.
Já começa a enxurrada... mares se fazem em poucas
gotas d’agua, mergulham em busca de tubarões.
e em poços d’agua, vivem... eternizam a tarde.
Autor: Roger Amado Veloso
CRIANÇAS DA GUERRA
ENTREGAM-TE UMA ARMA PARA AS MÃOS
ESSES INDIVIDUOS QUE SE DIZEM SENHORES
FAZENDO-TE À FORÇA E À PRESSA CRESCER
NUMA GUERRA FRIA QUE NEM SEQUER É TUA
VIVES A TUA INFÂNCIA DE MEDOS E TERRORES
POIS ELES NÃO QUEREM E NÃO TE DEIXAM SER
AQUILO QUE SÃO OUTROS IGUAIS DA TUA IDADE
ÉS VITIMA DE TODA ESSA GENTE DA HIPOCRISIA
QUE NÃO TEM ALMA NEM SEQUER CORAÇÃO
NÃO QUEREM SABER SE ÉS APENAS UMA CRIANÇA
ESTA É QUE É A MAIS CRUA E PURA VERDADE
LEVAM-TE A PERCORRER UMA GRANDE DISTÂNCIA
PASSAS SEDE, FRIO E MUITAS VEZES FOME
POR CAUSA DE TODA ESSA IMENSA GANÂNCIA
DE TODOS ESSES SERES DITOS DE HUMANOS
QUE FAZEM TUDO POR CAUSA DE DINHEIRO
ESQUECEM-SE É QUE AGINDO DESTA MANEIRA
ESTÃO A PÔR EM CAUSA A TERRA INTEIRA
POIS É EM QUALQUER PEQUENA CRIANÇA
QUE EXISTE PARA NÓS A GRANDE ESPERANÇA
DE UM MUNDO JUSTO E CADA VEZ MELHOR
AUTOR : PEDRO ALFAIATE
DORME, MENINO TRISTE
Sozinho junto à praia,
um menino descalço brinca.
Tão sozinho, sobre a areia...
Expressão triste, olhos molhados.
Inquieto, liberta a fúria que traz na alma, correndo
como quem busca e não alcança.
Escuta o vento sibilar,
observa perplexo o encanto do mar,
e, soluça com grande pesar,
de voz rouca e mansa.
- Onde vais tu menino triste?
- Que procuras que não encontras?
Mas o menino não responde,
apenas chora e corre...
Mais tarde já cansado,
seu corpo mole cai sobre a areia,
fecha os olhos e dorme.
Sozinho junto à praia,
um menino descalço e triste,
já não brinca, já não corre, já não chora, dorme...
Andreia Lourenço
Sublimação...
Alvo o teu rosto
Íris de arco-íris
Cor negra do estrelecer
Branca de flor de sal
Indígena
Olhar de amêndoa pequenina
Tens a raça do que eu sou
Num corpo de esperança
Que o mundo fingiu querer
Olhos de nascer
Criança…
Mas tão pouco...!
Ausenda Hilário
Olá Miguel.
Era uma vez...Um mar. Sabes do mar?
Então... eu vou-te contar.
Um dia, daqueles em que o sol parece beijar o céu,
Cansado, estendi-me num sonho, e olhei nos teus olhos.
Brilhavam. Soltavam ondas de luz que rolavam em caricias.
E, do fundo da beleza do teu olhar de menino, saíam brisas
Que juntava, uma a uma, até fazer um vento que afagasse o teu cabelo.
Do azul dos teus olhos, colori as lágrimas que deixo correr
Da emoção de te ter, da paixão de te ter ao colo,
Do teu cheiro a vida nova misturada neste amor antigo.
E assim fiz um mar, e dei-lhe um nome e um lugar;
Miguel, numa praia imensa do tamanho do meu amor.
Autor: Ricardo Silva Reis
Meninos da Rua
Meninos que têm o Mundo no olhar,
sonhos adormecidos sob a luz do luar,
lençóis feitos de chuva, de frio e de vento,
cobertores tecidos com mágoa e sofrimento.
Meninos que têm a cidade na sola do pé,
coração perdido que não sabe quem é,
conta corrente feita na palma da mão,
conta poupança para água e para pão.
Meninos adultos que não foram crianças,
desgostos que nunca foram esperanças,
desilusões de uma vida sem sentido,
meninos de rua neste Mundo perdido.
Meninos que têm nos olhos a mágoa,
tristeza em forma de leves gotas de água,
sonhos que adormecem à luz da lua,
rostos esquecidos dos meninos da rua.
Meninos sozinhos que são filhos do vento,
carinhos que nunca tiveram um momento,
meninos que fizeram da dor a sua mãe,
meninos que só têm a rua e mais ninguém.
Hisalena
MÃE ADMIRÁVEL
Obrigado mãe por me carregares no teu ventre;
Por dares à luz o filho que beijaste à nascença.
Que embalaste no teu regaço, cantando hinos de amor.
Obrigado mãe por tirares da tua boca o pão que me alimentou;
Por curares minhas feridas com as tuas mãos divinais.
Por me cantares ao ouvido quando a noite era medonha.
Obrigado mãe por me ensinares a ser gente.
A saber amar, oferecer, perdoar;
A sentir no meu coração o valor da simplicidade.
Obrigado mãe pelos sacrifícios que tomaste.
Pelos brinquedos, pelo ensino, pela saúde e pelo modelo de criança.
Perdoa-me mãe pelas minhas más atitudes.
Pelas respostas amargas e frias que disse sem pensar;
Pelas lágrimas que escondeste fingindo estar tudo bem.
Perdoa-me minha mãe por humilhar-te sem me dar conta.
Por ignorar-te, esquecer-te, abandonar-te ao sentir-me um sábio fraco.
Por te ver silenciosa e triste e não ter tempo para te ouvir.
Perdoa-me por ser infiel;
Por ser filho desnaturado, esquecendo a tua existência.
Por não te abraçar, beijar e falar quando o momento o exigia.
Aceita mãe o meu perdão.
O meu arrependimento e o meu sorriso de agradecimento.
Obrigado mãe, pelo teu verdadeiro amor.
Pelo carinho doce e humilde que brota do teu coração;
Pelo sorriso, aberto, maduro, que jorra do teu olhar.
Pelas palavras imaculadas que os teus lábios soletram baixinho.
Obrigado minha mãe por estares sempre a meu lado.
Por seres a razão da minha vida e a força de ser quem sou.
Também a Deus agradeço esta oferta familiar: MÃE!
Jorge Barroso
O Mundo pelos olhos de uma criança
Que procura gozo entre brincadeiras e risadas,
Sejam elas impróprias, inocentes ou ousadas,
Esperando em cada gesto, carinho.
De olhar terno, meigo e penetrante,
Timidamente sorrindo, sorrindo, vivo no Mundo que é só meu,
Aquele onde todos os meninos têm pai e mãe, tal como eu,
E onde a fome e guerra não são inquietantes.
Traz um amigo e vem brincar ao faz de conta,
Faz de conta que subsiste paz no Mundo,
Que a pistola se calou num sono profundo,
E que o Mundo não é liderado por gente tonta!
Crianças da minha alma
São aquelas as melodias que me invadem,
Aqueles sorrisos e olhares, aquela esperança
Momentos que se tornam horas,
Aqueles momentos mágicos, divinos
Meus olhos se prostram a vossos pés,
Vossas mãos me tocam no rosto, suavemente,
Ouço ecoar um suspiro que vem de mim,
Meu ser se vai enchendo de esperança,
Vossas mãos me vão guardando assim,
Vossos sorrisos me preenchem por dentro.
Vossas mãos me guiam para o que não consigo ver
Lá está ela, uma pequena beleza de magia e de luz,
Uma doce borboleta que vocês que mostram,
É aquela divina magia que me seduz,
Vossos olhares aos meus se encostam
Talvez fosse melhor esta força vossa,
Esperanças de magia no meu viver
Sofia Duarte
Crianças:
Irmãs do azul,
Manhãs,
Mundos estrelares,
Diamantes
Do fogo sempre amantes.
Elas –
Sim, elas são as crianças
Que liberam o amor
Para tudo banhar.
Elas –
Sim, elas são as crianças
Que tocam o essencial
Soltando
Substâncias
De milagre no sorriso
Da Humanidade…
Gilda Nunes Barata
Eterna criança…
Por entre olhares rancorosos de uma multidão em fúria,
Por entre ruas, escadas e caminhos de terra,
Um olhar de sofrimento surge
Oculto por roupas velhas
Que deixaram há muito de ser o presente desejado.
Reencontro novamente os teus olhos
Que já nada me dizem, já nada me revelam.
Saber que tanto te amei,
Que tantas noites perdi chorando no silêncio da escuridão
Na ânsia de assistir à impossível repetição de nossos actos.
Por entre olhares discretos e lágrimas escondidas
Prometemos enquanto crianças
Nunca esquecer o amor que nos unia…
Oh, eterna ingenuidade de quem vive num mundo de quimera.
Enquanto adultos,
Esquecemos a pureza que os nossos corações conservavam,
Perdemos a inocência que habitava nossas almas,
Desprezámos a maior parte dos ensinamentos que nos transmitiram
Achando conseguir, sozinhos, escolher os caminhos certos.
Esquecemos que fomos crianças, que ainda somos crianças,
Esquecemo-nos de viver o presente porque não abandonamos o passado,
Porque pensámos demais no futuro.
Hoje, escolho o caminho da felicidade, pois
Com este corpo de adulto, coabita uma alma de criança,
Uma eterna criança que sempre me lembra
De nunca parar de sonhar…
Diana
Juntam-se todas as cores e fazem-se risos
Que não se cansam e nem adormecem
Faltam promessas que não amanhecem
Lambuzam-se olhares que ficam cativos
Olhares que brilham ainda sem sisos
Enquanto os adultos, todos, endoidecem
Enquanto as esperanças, todas, desfalecem
Mesmo com tantos, ai, tantos avisos
São empurradas para um incerto futuro
Por mãos que não deviam sair do leme
Distribuindo amor, carinho e certezas
Mas caminham ignorantes rumo ao escuro
Não acreditando que alguém as algeme
São apenas crianças, não têm impurezas
Nicácia
Não, hoje não tenho tempo para brincar contigo.
E não sei explicar, por palavras,
Ao teu pequeno mundo,
O significado de um dia ter corrido mal
Porque os teus dias são cheios de descobertas,
De aventuras, de brinquedos
Que te segredam sonhos.
Não te consigo dizer o que é estar cansado,
Quando corres para mim de braços abertos
Com um sorriso nos lábios
Porque tu corres e brincas e pulas
E a energia, em ti, parece que se renova.
Como te explicar que hoje estou sem paciência
Para as tuas birras ou para as tuas brincadeiras?
Quero dizer-te por palavras
Aquilo que não vais entender.
No fundo, queria ser como tu,
Habitar esse teu mundo de porquês e de fantasia.
Poder ser de novo criança e,
Brincar contigo o dia inteiro.
Paulo Eduardo Campos
Corpo de leite
Brinca naquele corpo de leite
Que pula calçada fora
De sorriso enérgico e rasgado
Enquanto desenha os sonhos
Com coloridos lápis de cera
Corre gingando pelo saber
Alegre e de mochila às costas
Baloiçando entre verbos e matemáticas
Exercitando o crescer
Ao som do chocalho dos berlindes
Pinta as roupas rotas nos joelhos
De tons relvados e lamacentos
Espelhando tropelias e diabruras
Rejuvenescendo os rostos dos avós
Naquele corpo de leite…Ele é feliz.
João Manso
Destino
Esta noite sonhei,
Era algo confuso,
Ao certo não sei,
Estava meio difuso.
Via uma criança
Com uma espingarda,
Veio-me à lembrança
Uma foto mal tirada.
Mostrava um menino
Com uma arma na mão
E de sorriso genuíno.
Acordei sobressaltado
Com esta minha visão.
É este o destino traçado?
FrancisFerreira
Carlota
As folhas espraiavam-se-lhe no olhar
As bonecas bailavam-lhe nos caracóis
As mãos pequenas, o coração graúdo...
Sentava-se na relva cinzenta,
Rebolava-se para a colorir...
Carlota não sabia
Para cores somente teria de sorrir.
Que eram vernizes brilhantes
As notas de cada cantiga sua
Carlota ciciava a todos o tamanho da sua altura
Baixa, não pequena.
Carlota era feita de açúcar.
Vicente Queiróz
Baloiço
Em cada segundo
Do balançar da vida
Do bombear da alma
Tudo muda…
Cada instante é uma descoberta
Os dias são a aventura
Os meses tornam-se aliados
É o crescer da mudança!
A pressa é tanta
Ainda que o tempo pare
Tudo avança… E…
Eis o Homem que ontem
Era Criança!
O tempo avançou
O corpo mudou!
Resta a esperança
De ser eterna criança…
Luana L.
Ser-se criança
é ser-se impertinente,
é ter a esperança
de um ser inconsciente.
É gritar à toa
batendo com o pé no chão,
um verso de “Pessoa”
que ficou no coração.
É não saber viver
apenas por um dia
é ser-se contente, conhecer,
uma imensidão de alegria.
Ser criança é ser poeta,
um vagabundear feliz,
é andar de bicicleta
é ser-se o que Deus quis.
É contar pelos dedos
para depois esquecer,
ter tremendos bocejos
e depois adormecer.
Assim, na vida dos cultos
onde andamos aos encontrões
respiramos como adultos,
crianças de outras gerações.
Soraya Cruz
Criança, vem embalada, vem
Faz do teu mundo o brinquedo
O carrinho que rola sem medo
Em direcção aos braços da mãe
Por baixo da almofada, voa
Com a fada que te guia
Não sigas as estrelas à toa
Pois amanha será outro dia...
Tu podes ser tudo! Cavaleiro
Príncipe, ou até super-herói
Com a espada rasga este nevoeiro
E esta saudade por inteiro
(Que um dia verás que dói)
Mas por agora, só por agora
Sonha e vive, para além de mim
Parece que o tempo não vai embora
Quando as brincadeiras não têm fim..
E ao olhar-te, minha criança
Nesses olhos soltos de menino
Vejo a mesmissíma esperança
Com que eu olhava de pequenino.
José Correia
Apenas Crianças
Duas pedras preciosas,
Com os olhitos a brilhar,
Duas crianças amorosas
Que ainda nem sabem gatinhar.
Dois botões a florescer
Que o futuro viu nascer!
Feições únicas, bem marcadas,
Narizitos tão diferentes,
Boquitas bem desenhadas,
Sorrisos doces e inocentes.
Dois meninos tão desejados,
Tão pequeninos, mas tão amados…
Já os vejo a correr atrás da bola,
Traquinas, felizes, cheios de vida,
Já os vejo a caminho da escola,
Enquanto penso em tanta criança perdida.
Tanta criança abandonada,
Sem pão… sem nada…
Crianças que crescem sem amor
Que pedem algum consolo,
Crianças que só conhecem a dor
Que procuram o carinho de um colo.
Crianças que são apenas crianças…
Em quem depositamos tantas esperanças!...
Dina Rodrigues
A CRIANÇA JESUS
Vê, Belém, já chegou o grande dia!
A terra estava prenhe de ansiedade,
E tu, sorrindo de felicidade,
Como previra antiga profecia.
Anjos cantando, um quadro de alegria
Naquela gruta com simplicidade;
Numa criança, toda a divindade
Sob os cuidados ternos de Maria.
Sem conforto nenhum, embora Rei,
O Menino chegou, trouxe esperança.
Fala, Belém, pois explicar não sei,
Pois pra selar aqui nova Aliança
Tornando inteligível a Sua Lei,
O próprio Deus quis ser uma criança.
Gílson Faustino Maia
Há algo de belo
Há algo de belo em alguém que morre novo,
E nada da beleza está na morte.
Pelos cantos putrefactos do que vejo
Vejo mais, que a vida que se acaba, antes do tempo,
(há lá tempo para qualquer vida se acabar?)
Tem algo de belo nela, nesse suspiro, nesse findar.
Um romantismo estéril e moribundo,
Do que acabou antes de vir a ser,
E a ignorância do que seria,
Evitando a decadência do lento deixar de ser.
E é triste, e é belo, e emociona-me
O arder e o apagar independente
Da vontade ou desejo do portador,
Apenas por significar o que significa:
Menos o fim de uma esperança infinita num tempo finito,
Menos uma cortina a separar o tudo do nada, e do menos que isso,
Menos uma alma incompleta à espera de o descobrir
(completa por isso)
Menos um resfriar lento e comedido, para não parecer mal,
Mais um suícidio em nome da eternidade.
O medo. O medo. O medo.
Perde-o.
Agora ou depois, ardendo ou apagando,
Criança com tudo ou acabado com nada,
Perde-o.
Só te resta a morte.
Pedro Leitão
Ser pequenino é um mimo!
Os dias são enormes
"Bom dia alegria!"
Uma voz poderosa chama
"Está na hora de acordar!",
"Toca a levantar!"
"Chega já de preguiçar!"
A custo, lá pestanejamos
Um banhinho tomamos
E os dentinhos lavamos
"O pequeno almoço está na mesa!"
...há que aligeirar...
Que o caminho da Escola é longo!
Puxa vida e já almoçamos!
Não falta tempo,
Falta preocupação,
Dos Grandes que lutam e ganham tostão.
Nós entre tantos... estudamos!
Chegando a casa, lanchamos.
Joga-se a macaca e ao berlinde
Com playstation e com Barbie
Estudamos?!....
Um banhinho tomamos
E os dentinhos lavamos.
Jantamos.
A Tv espreitamos
Pedimos colo e um conto,
Um chi-coração...
Embalamos...e..."
"boa noite"!
... volta tudo ao inicio!
André Manuel
As crianças
Olham páginas em branco
E avistam cor.
Refugiam-se de baixo de um manto
De carinho e de amor.
Deslocam-se em bicos de pés
Quando querem uma carícia
E lutam contra ventos e marés,
Lealmente, sem malícia.
Pintam paredes de sonhos
Com a tinta da imaginação.
Possuem corações medonhos
Mas que cabem numa mão.
São a alma do futuro
Vindas de um passado recente.
Ainda não têm um espírito maduro.
Mas o alcançarão, calmamente.
Percorrem caminhos de descoberta
Sem os pedirem a ninguém.
E, porque a vida não é certa,
Por vezes, tratam-nas com desdém.
Ainda muito haveria para contar
Sobre os caminhantes desta faixa etária.
Mas, tal como eles, vou brincar
E pousar a caneta na secretária.
Sílvia Gonçalves
As flores são como as cores
Lindas e divertidas.
De várias espécies e feitios
Até das mais atrevidas.
Trazem recordações
E fazem lembrar canções.
Abrem corações
E criam muitas paixões.
O vermelho lembra o amor,
Mas também faz lembrar a dor.
E existem várias flores,
Desta cor.
O verde lembra a esperança
E o brilho da erva.
O azul faz lembrar o mar
Para onde quer que nos leva.
O amarelo lembra o Sol brilhante
E as pessoas elegantes.
O rosa lembra a cor,
Mas também a flor.
Existem várias cores
Todas com a sua característica,
Aprenda o seu significado
E seja mais ambientalista.
Telma Branco
PERIGO
Vi uma garota dormindo
num sono puro de criança
vestia short e camiseta
suja e sem etiqueta
Simbolo concreto do menor carente
além de tudo era deficiente
faltava-lhe o pezinho esquerdo
senti vontade de acordá-la
mas tive medo...
Medo e insegurança
não daquela humilde criança
mas de não ter o que lhe ofertar ou para onde levar
A um hospital? A um conselho tutelar?
Se na verdade ela precisa é de um lar
Vi uma garota dormindo
exposta aos olhos de quem por ali passava
todos tinham um lugar a seguir um horário a cumprir
mas aquela criança não tinha sequer onde dormir...
Vi uma garota dormindo
não era apenas um sono infantil
era um sono sem esperança
e ainda dizem que as crianças são o futuro do Brasil...
Crianças que dormem nas ruas ,
sem cobertor e sem abrigo
Acorda Brasil!
que seu futuro estar correndo grande PERIGO!
Lenice Ferreira
Um Sorriso
Ela sorri, como se fosse a vida
Contemplando as miragens da paixão.
Serena e infantil, quase perdida,
Uma criança fita a solidão.
Num sorriso, estilhaça a escuridão,
Doma as feras da noite indefinida
E planta no vazio de um coração
Um sorriso de esperança renascida.
Ela vive nas asas da memória
Como um futuro arrancado da história
E transplantado em terra abandonada
Para florescer em rosa fascinante,
Sorrindo aos olhos da noite brilhante
Como um hino nos céus por sobre o nada.
Carla Ribeiro
Hoje é dia de festa
Hoje é dia de festa
Pois em um rostinho lindo
Um sorriso me encantou
E em seus olhinhos a me olhar
A pureza me mostrou
E levou-me a voar
Como balões coloridos
Quando leves toques
De seus dedinhos
Fez-me flutuar.
Hoje é dia de festa
Uma grande festa
Quando a contemplar
A doçura multiforme
De uma coisinha
Tão simples, meiga e grandiosa
Que me faz amar, sonhar e confiar...
Terezinha Guimarães
A bola da Rita rebola, e rola…calçada fora…
Rebola e saltita, calçada fora, por sobre os lancis,
Por sobre os beirais, calçada abaixo, por meio dos quintais
E ei-la que espreita e agora se esconde
A bola da Rita rebola, rola, saltita e gira, rodopia
Sem parar, qual piáo, qual corcel, atira-se ao ar
E salta outra vez, agora que sobe aquela ladeira
Deixa-se cair, rola, rola, rola sozinha, sempre a andar
Agora se esconde, já quase perdida, já quase a parar
E a Rita cansada, calçada fora, calçada abaixo,
Ladeira acima, ladeira abaixo, corrida sem fim, até sufocar
Quem dera que a bola parasse enfim,
Enfim cansada, sem fintas nem nada, que fosse parando,
Devagarinho, esperando pela Rita, que corre, se corre!
E agora, onde está? Passou os quintais, saltou dos canteiros,
A bola da Rita não pára, não quer, sem esperar saltita e
A Rita grita:« Ai bola malandra, não fujas de mim!»
Mas a bola rola e rola, rebola e pula, fintando a Rita,
Que sempre a correr, sempre a saltar, persegue a bola,
A sua bola, que chegou à estrada, sem medo de nada,
Matreira e rápida, num instante se some, rolando, rolando
Até ao cais, pertinho dos barcos, juntinho à amurada
E a Rita sem fôlego, quase a apanhá-la, quase a chegar
Ao pé da bola, ao pé dos barquinhos, e agora um ventinho;
Um vento de nada, que sopra mansinho até à amurada
E a bola que esperava, agora parada, que a Rita a levasse,
Em menos de nada, se deixa embalar na brisa da tarde e
Adeus, Rita, que o rio me chama: eu vou viajar,
Um dia quem sabe, se tu me quiseres, eu vou voltar,
Se o mar me trouxer e tu, então, quiseres me agarrar
Cálice
Meninas de Cristal
Narizitos cuidadosamente moldados
Boquitas alegremente recortadas
Olhos vivos de tanta vida por viver
Miniaturas de cristal
Reflexos puros
De genuinidade
De ingenuidade
Pormenores do ser esculpido
Minúcias da existência soprada
Jóias puras gemas
Peças únicas na minha vida
Preenchem de detalhes os meus dias
Por vezes sombrios os meus dias
Iluminados pela luz
Desse cristal
Abrilhantados pela transparência
Dessa inocência
Harmoniosamente pequeninas
Estas miniaturas as minhas meninas
Bibelôs cheios de graciosidade
Alegram a minha vida
Por vezes tão pouco genuína
Jóia de pechisbeque
Perdida em reflexos difusos
Esquecida da verdadeira
Importância da existência da vida
Rute Galvão
Sou Criança
Sou criança dizem eles
Nem sempre devo opinar
Tenho de fazer os deveres
Perco o tempo de brincar
Sou criança tão ladina
Sempre a perguntar porquê
Sou uma criança rabina
Que quer tudo o que vê!
Acho o mundo tão gigante
Tão maior que a minha rua
Tantos países distantes
Fica mais perto a lua?
Às vezes não gosto disto
E daquilo também não
Se faço birra e resisto
Levo logo um sermão!
Sou criança e sou feliz,
Muitos me sabem amar
Agora sendo petiz,
Sei rir, crescer e cantar!
Sou criança, eu sei bem
Mas isso é mesmo conforme
Porque em dias que convém:
"- Porta-te bem! Estás enorme!"
A MENINA EM MIM…
Dentro de mim há, todos os dias,
Uma menina muito pequenina
(falo muito a sério, não estou a sonhar!)
Com quem me dou muito bem,
Com quem gosto de brincar.
Não sei o que é vergonha
Por isso nunca dela me envergonho
Mesmo quando é travessa ou faz maldades.
É em mim que a trago, jamais se escondeu
E todos os dias, a todas as horas,
Sou muito mais Ela do que Eu.
As minhas meninas,
As que pus no mundo,
Zangam-se com ela,
Não sabem amá-la
E ela fica triste, chora e vai-se embora
Mas volta a sorrir mal se esqueçam dela…
E eu também sorrio,
Torno a inventá-la,
Dou-lhe dos meus sonhos,
Dou-lhe a minha voz
E enquanto viver não quero perdê-la
Ou desencantá-la!
Se esta simbiose vos não agradar,
Se acharem imprópria esta cumplicidade,
Ó senhores do Bom Senso e do Lugar-Comum,
Vão ter, queiram ou não, de a aceitar…
É ela quem me tece os dias,
Um a um!
Maria João Brito de Sousa
No poema uma criança é da cor do verão
A cor do verão quando o vento sopra nos abetos,
e a sombra do mar entre a brancura das casas.
Uma criança sozinha com os seus olhos secretos
canta e ergue os braços como se fossem asas.
Sempre a caminho de um íntimo segredo,
irmã das fontes, a criança com o sorriso de água,
de lira ao peito, a sua voz de nada tem medo,
e no pequeno coração de âmbar nunca guarda mágoa.
O odor das flores, essa criança sabe-o só de o imaginar,
quando o pólen lhe atravessa a pele como se um rio fosse.
É seu o nome da primavera e todo o seu destino é cantar!
Não sabe outro caminho, nada seria se não cantasse.
E o poema depois de escrito, os seus olhos confirma
o seu rosto de rosácea, a sua pele de rio se canta.
E, se canta, a criança é toda erguida a voz que ama
tudo aquilo que ela com todo o seu dom encanta.
José Pereira
no Vale do Aço, em Minas Gerais.
é verde amarela azul e branca.
Minha cidade é pequenina
e tem rio,
tem lagoa,
tem São José da Lagoa,
tem vales e serras.
Inda ontem fui lá
e fiquei feliz:
minha cidade ainda tem crianças
brincando na rua...
Toda a criança é um rio
As crianças são espelhos. Erguidas, plantadas
à beira dos rios de ar do poema, que atravessam
só de o respirar. E, se me olham espantadas,
eu escrevo depois o poema onde só elas cantam.
Toda a criança é um rio
com olhos cor de safira.
E, se com elas, triste, sorrio,
é porque é nosso o canto da lira.
Não lhes peço mais que um pouco de céu
e o génio das palavras semeado no vento.
De Maia, só elas sabem o que está por detrás do véu,
sob as estrelas com os líricos olhos ao relento.
Cada criança é o seu próprio céu estrelado,
e onde vêem o Deus ao espelho, está o poema.
E elas cantam, dizem palavras: amado,
música, dedos, piano, coração, noema,
Eu sei, as crianças são paisagens atravessadas
por rios cor de pássaro. Na garganta flautas têm,
por Orfeu são as coisas mais amadas,
e o poema só começa quando elas sorriem.
pseudónimo: Gabriel Vagas
PARA SEMPRE CRIANÇA
Por mais que o tempo passe e que tudo mude
Sempre estará escondido lá no fundo a criança que fomos.
E sempre lembraremos dos momentos da infância com um sorriso,
Não este apenas dos lábios, mas também da alma.
Lembraremos de como eramos felizes
E que nem tinhamos noção disso...
...E sentiremos saudades...
E correremos de um lado para outro atrás desse sentimento...
E não o encontraremos em ninguém e em lugar nenhum,
Mas depois perceberemos que é dentro de cada um de nós
É que está o ser que nunca morre...
Que se chama: CRIANÇA.
Fernanda Moura
"Deixa-me nascer"
Mamãe já sou criança, um menino
Ainda não percebe, deixa-me nascer.
Sou quase um nada, um pequenino
Sinto tudo e posso perceber.
Estou no teu ventre, vem me alimentar,
Cuide-se, alimente-se para eu crescer...
Minha mãe querida espere, logo vai ver,
Com o tempo, sentirá a barriga aumentar.
Mamãe não chore pelo abandono!
Ficarei junto de ti, teu apoio serei,
Não pense no meu pai, foi engano.
Pense em Deus, nosso pai, nosso Rei.
Mamãe preste bastante atenção!
É uma mulher, adolescente carente
É difícil ser mãe neste mundo vilão...
Sou teu filho e serei valente!
Não tem raiva de mim. Estou a crescer
Com esta dor que veio te abraçar.
Mesmo sozinha deixa-me chegar
Mamãe eu quero muito nascer!
Eu quero ver a vida, deixa-me viver!
Tenho em mim o amor a pulsar,
Mamãe sou teu filho, já sei amar...
Creia! Vale à pena deixar-me nascer.
Velucia
Imperador da mudança
São elas imperadores da mudança,
Figurada frágil esse ser, criança,
Ser criança é a nossa eterna dança,
E no par nunca perder a confiança.
Ver o mundo num baloiço que balança,
É Estado de constante aventurança,
Sem exigência, receio ou cobrança,
Desconhece o tempo, é da vida aliança.
Corre sem ir a lado algum e nem se cansa,
Sem preocupação alguma, a vida abraça,
Pais podem ser o cabo, mas é ela a lança,
Pais são os que lembram a sua criança.
Para não esquecer a semente do meu ser
Rega-la sempre que vejo o sol nascer,
Poder apreciar o seu maravilhoso florescer,
Baptizei-a, o nome que lhe dei foi Esperança.
Bruno Dias
Porcelanas de Orvalho
Quando subimos o olhar prodigioso
E ao longe as aromatizámos,
Sentimos a tal correlação
Que se viria a revelar benévola
E que muitas vezes nos forneceu
O firmar da arte desirmanada.
Esse silêncio que nos intacta,
Dilacerou-nos o racionalizar,
Preteriu-nos no austero,
Abandonando-nos dementes
Perante tal excelência singular.
Esses desertos,
Essas areias secas,
Esses pós mortos,
Que ressuscitam
E florescem
Na incomensurabilidade
De impugnações,
Não se alcançam dominar.
E…
São engenho
Que embute,
São faísca
Que atinge,
São sabor
Que tolhe,
São perfeição
Que permanece,
São crianças
Que nascem.
Francisco Viborg de Aragão
A infância é da criança
Ter infância é ser criança,
E embora haja quem não pense,
Criança também é gente.
Criança tem sentimento,
Que cresce com o tempo.
Criança tem alegria,
Envolta em fantasia.
Criança quer brincadeira,
E também gosta de fazer asneira.
Criança não tem vaidade,
Mas é próprio da idade.
Criança também sente tristeza,
Mesmo criada com riqueza.
Criança também tem dor,
E sofre por falta de amor.
E que bom que seria,
Se pudesse-mos dizer todos com alegria,
Que já fomos criança em dia.
Autor: Green Eyes
Tempos de Criança
Tempos esses em que não havia quase nada
Nada de preocupações nem lamentações
Apenas contos de fada
E uns tantos chi-corações
Passava os dias a sorrir
E as noites a sonhar
Mas nunca queria dormir
Queria sempre brincar
Tanta energia e tanta vitalidade!
Para mais um jogo havia sempre vontade
Quando a mãe chamava dizia-lhe sempre “já vou”
Mas quando dava conta “mais de meia hora que passou!”
Tanta confiança e imaginação
Nem sempre davam bom resultado, não!
Quando dava para o torto ficava de castigo
Mas passado pouco tempo tudo era resolvido
O entusiasmo de aprender
E a força de não esquecer
Fazem das crianças… seres a valer!
Daniela Coutinho
Arco-Íris
Fruto do amor,
Nasce um rebento:
- Humana flor!
Repleto de candura
Respira livre
Corre, pela mão segura,
Inocente, pequenez pura,
Pulsante de cor, de vida
No piscar dos olhitos
Brilhantes, esbugalhados e bonitos
Qual mágico sorriso maravilhoso?!
De duende guloso
De esperança verde vestida,
espantoso!
Liacrisoa
O LIVRO
Eu sou o livro!
Sou engraçado,
Conto-te histórias
Sempre calado.
Se me tratares
Com muito amor
Eu posso ser
Teu professor.
Mostrar-te o mar
Com seus peixinhos,
Bonitos ninhos com passarinhos.
Posso levar-te ao meu jardim.
Tenho tulipas, rosas, jasmim…
Eu posso ser o teu amigo
Se me levares sempre contigo!
Eu só não posso
Dar-te alegria,
Se me ofereceres
À tua tia.
Lídia Borges
"integral
dá-me de volta o vazio despretensioso
do teu sorriso que perdi
na vertigem irrevogável dos dias somados.
lanço ao futuro os olhos semi-cerrados,
procuro a inocência que já não trago,
porque agora vive em ti.
fosse a vida a pura soma dos sorrisos,
e das gotas desse orvalho da manhã,
que trazes nas tuas mãos de criança.
fossem tão simples os gestos necessários de hoje,
como as perguntas que nos fazes
e límpido chegaria o dia de amanhã.
trazes na tua pele integral o exemplo da pureza
e já tantos te olham qual abutres o cadáver.
tiago pedras
Criança em mim, criança em ti
Os teus olhos brilham
A mentira não sai de ti
Letra a letra
Vais caminhando neste mar
Onde aprenderás a desenhar o fado.
Entre a magia do berlinde
Vais lançando peões
E correndo em caçadinhas.
Acordas
Ela fugiu do teu corpo
Penetrou a lembrança
Entre vais e voltas
serás sempre criança.
Paulo Teixeira
O mundo em teus olhos
Em teus olhos vejo o mundo,
Belo, irrequieto, passageiro,
Por vezes demasiado profundo,
À luz do candeeiro.
O que esconde teu sorriso,
Amor, dor, felicidade?
Ou tão somente o que é preciso,
Respira liberdade.
Suspiro pelo momento,
Em que te vejo, e contigo brinco,
O meu único lamento,
É não gastar o tempo com afinco.
Nos teus olhos, criança,
Em olhares singelos,
Tudo desliza numa dança,
Que faz meus dias mais belos.
Vítor F.
CRIANÇA DO AMANHÃ
Olhos no olhos te admiro,
ainda franzino, bebé,
crescerás num suspiro.
Meu tempo não é o teu tempo,
e eu peço ao Sol, ao vento,
que adie meu retiro...
Quero-te ver crescer,
Ser o lobo mau
A quem vais bater
em tuas brincadeiras...
Levar-te às cavaleiras
em correrias sem fim...
Tu fazes parte de mim...
És a criança que carrego ao colo,
serás o jovem de amanhã,
ver-te será meu consolo,
E o mundo como te aceitará??
Alexandrino Sousa